26/06/2010

Artigos Repórter do Futuro

Artigos Repórter do Futuro

Sustentabilidade deveria ser a nova bandeira brasileira

Para surpresa de muitos, os países desenvolvidos não são os que mais exportam, nem os que mais importam. O crescimento tanto da demanda como da oferta, no comércio internacional, é decorrente dos países em desenvolvimento cuja população, ao sair do limiar da pobreza absoluta, passa a consumir.

Contudo, esse crescimento enfrenta condicionantes como alta de preços dos alimentos, crise energética, aquecimento global e estresse hídrico. Nesses três aspectos a importância da Amazônia é fundamental.

Mesmo sem inclusão de novas terras, a produção agrícola brasileira, se feita de maneira sustentável, garante produção de alimentos suficiente para o abastecimento da demanda atual e futura, por várias décadas. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - EMBRAPA realizou estudos em que ficou demonstrado que o manejo sustentável aumenta em 7 vezes a produtividade do solo.

As usinas hidrelétricas em construção na área do rio Xingu e do rio Madeira, bem como a extração de oleaginosas prometem mitigar a falta de energia sem sujar a matriz energética brasileira, que atualmente tem cerca de 50% de fontes renováveis (biomassa, etanol, hidreletricidade).

A capacidade de seqüestro de carbono da floresta em pé é um diferencial para o controle do aquecimento global. Além disso, as presentes mudanças climáticas já demandam novas tecnologias para conseguir adaptar a produção agrícola a esse novo clima e no futuro essa demanda tende a crescer exponencialmente.

O estresse hídrico, enfrentado por grande parte da população humana, também pode ser reduzido com a exportação direta ou indireta (via produtos agrícolas) dos recursos hídricos da região mais úmida do Brasil.

O diferencial da Embrapa em biotecnologia e em agricultura sustentável, já reconhecido mundialmente, deve ser explorado e incentivado de modo a consolidar o protagonismo brasileiro nessas áreas.

O Brasil inicia o milênio reconhecido internacionalmente como potência emergente. Para garantir seus interesses, precisa de uma política coordenada, em que todos os ministérios cooperem para superar a escassez de combustível, a ameaça de fome, o estresse hídrico e o desequilíbrio entre o ritmo de consumo de recursos naturais e a respectiva renovação.

A busca da sustentabilidade deve ser o objetivo de longo prazo de todas as políticas públicas. Pois o Brasil só tem a ganhar tanto em termos de país possuidor de recursos naturais como em termos de desenvolvedor e exportador de tecnologia limpa.

Autora: Danielle Denny, participante do Projeto Repórter do Futuro, módulo “Descobrir a Amazônia, Descobrir-se Repórter”.


Precisamos de pragmatismo

O neoliberalismo e o pensamento politicamente correto travam o desenvolvimento e colocam em risco a soberania brasileira sobre a Amazônia.

Não faz sentido esperarmos que as leis do livre mercado levem infraestrutura e desenvolvimento para uma área de vazio demográfico.

Da mesma forma que é um disparate esperarmos que a população local, para preservar os recursos naturais, se sacrifique sob uma expectativa de vida de 36 anos, conforme ressaltou o General Eduardo Dias da Costa Villas Bôas , em conferência no Instituto de Estudos Avançados da USP, em 8 de maio de 2010.

Há que se atribuir valor econômico para a floresta em pé de modo a ser possível concorrer com as commodities. E só o investimento coordenado em pesquisa, ciência e tecnologia pode proporcionar isso.

O reconhecimento das situações reais de vida na Amazônia, frente à enorme potencialidade de recursos, deve ser sopesada com a multiplicidade de interesses sobre essa região, inclusive de estrangeiros. O idealismo pode ser uma arma inimiga.

Autora: Danielle Denny, participante do Projeto Repórter do Futuro, módulo “Descobrir a Amazônia, Descobrir-se Repórter”.


Violência agrária aumenta na Amazônia

A política agrária implementada pela ditadura militar de levar homens sem terra para terras sem homem tem como consequência atual violência agrária e falta de infraestrutura.

Artur Zimerrman, citado por Guilherme Leite da Silva Dias , em conferência no Instituto de Estudos Avançados da USP, em 8 de maio de 2010, documenta por gráficos que a maioria dos municípios com violência agrária está na fronteira da Amazônia.

Nessas áreas, o povoamento é consolidado, como ressalta Bertha K. Becker, em Amazônia, Geopolítica na virada do III milênio. A área não é mais uma fronteira, assim, a produção sustentável deve predominar sobre a conservação.

O objetivo deve ser dinamizar a economia regional de maneira sustentável, para não só fixar a mão de obra local, impedindo que outras áreas sejam degradadas, como também conter o nível de violência.

A regularização fundiária, levada a cabo pela MP 458/2009. retomou o modelo da Lei de Terras de 1850, reconhecendo a titularidade da terra a quem comprova a posse, mesmo que ilegítima, fruto de grilagens e invasões por exemplo.

Relatório da época da Independência concluía que todas as terras aproveitáveis estavam tomadas num país com um vazio demográfico ímpar. Da mesma forma, terrenos amazônicos ostentam placas de titulares que nunca estiveram na região.

O modelo mão de obra migrante, direito do Estado de dispor sobre as terras públicas e tributação da propriedade privada para cobrir o déficit fiscal tem sido implementado diversas vezes na história. Mas a inaplicabilidade das diversas leis fundiárias, seguidas por repetidas normas de regularização da posse, demonstra a incapacidade do governo de implementar medidas contrárias aos interesses dos proprietários.

A ocupação da região amazônica deveria ter sido feita de maneira planejada. Mas dada a atual situação, segundo Guilherme Dias, o ideal seria acabar com o reconhecimento de posse. A terra nessa região seria, então, obrigatoriamente pública. A importância estratégica dessa área é muito grande para se submeter às disposições de proprietários particulares sobre os seus usos.

Essa ideia de Guilherme Dias pode conter a violência agrária mas é bem dificil de ser implementada, frente à Constituição que confere maior representatividade aos eleitores da região norte: o voto de 1 cidadão de Roraima, por exemplo, corresponde ao voto de 13,4 cidadãos paulistas, conforme dados do Almanaque Abril 2010.

Autora: Danielle Denny, participante do Projeto Repórter do Futuro, módulo “Descobrir a Amazônia, Descobrir-se Repórter”.


Agricultura sustentável

Guilherme Leite da Silva Dias , em conferência no Instituto de Estudos Avançados da USP, em 8 de maio de 2010, demonstrou que o método tradicional de agricultura, implementado desde o período colonial: desmatamento, manejo com queimadas e produção extensiva tem como consequência solos exauridos entre 10 e 20 anos. Esse modelo se justificava numa época em que os recursos naturais eram tidos como ilimitados. Atualmente essa improdutividade é irracional e precisa ser substituída por formas mais sustentáveis.

A melhor solução pesquisada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - EMBRAPA é a rotação entre lavoura e pastagem, feita de modo sustentável: com correção de solo, uso de adubos constantemente, troca de raizes num ciclo de cinco a oito anos e constante monitoramento. A agricultura sustentável demanda monitoração avançada de diversas especialidades como: água, lençol freático, erosão, química do solo, temperatura. O diagnóstico de sustentabilidade é altamente complexo. Mas esse sistema produz 7 vezes mais que o método tradicional e não esgota o solo, Segundo Guilherme Dias.

Dessa forma, não precisamos de mais terras, só o manejo sustentável já aumentaria a produtividade. O suficiente para alimentar a demanda dos próximos 50 anos. Mas esse modelo é muito mais complexo que os modelos industriais, de monocultura, implementados entre o Rio de Janeiro e Campinas. Assim, a demanda por mão de obra qualificada é muito maior. O nível educacional de um agricultor seria comparável ao do cidadão urbano.

Além disso, a agricultura sustentável precisa de muito capital e de muita tecnologia. Segundo, Guilherme Dias, o custo estimado é entre 15 e 20 mil reais por hectare. Ao passo que o método tradicional costuma custar entre 4 e 7 mil reais por hectare. Por essas razões, se o método sustentável fosse implementado hoje em larga escala, haveria mais uma onda de êxodo rural. As pessoas desqualificadas e sem capital seriam expulsas para a cidade. Para prevenir esse problema, o Brasil precisa qualificar a mão de obra agrícola nos próximos 20 ou 30 anos.

Nesse contexto de problemas complexos e interdisciplinares, a coordenação entre a política levada a cabo pelos diversos órgãos do governo é fundamental. Os ministérios do Meio Ambiente, da Ciência e da Tecnologia, da Agricultura, do Planejamento precisam cooperar para o desenvolvimento sustentável do Brasil. Políticas antagônicas, além de contraproducentes, revelam falta de estratégia de longo prazo, o que pode levar o país ao ostracismo.

Autora: Danielle Denny, participante do Projeto Repórter do Futuro, módulo “Descobrir a Amazônia, Descobrir-se Repórter”.


Geopolítica amazônica

A Amazônia é um território ainda desconhecido, não integrado ao resto do Brasil e, como o território é um dos elementos constituintes da nação, junto com população e com governo soberano, a conformação da nação brasileira está incompleta, segundo o General Eduardo Dias da Costa Villas Bôas, que afirmou em conferência no Instituto de Estudos Avançados da USP, em 8 de maio de 2010, que a Amazônia tem 26 trilhões de dólares em recursos naturais: 18 trilhões de recursos minerais e 8 trilhões em biodiversidade. Esses valores correspondem a 1/3 do PIB mundial.

Além disso a extensão territorial é tão grande que a Índia, com 1 bilhão de habitantes, caberia na Amazônia. Toda a Europa ocidental também serviria com folga. Os recentes 15.000km² de desmatamento por ano correspondem à metade da Bélgica. Essa grandeza é a responsável pelo sentimento de Brasil continental. Sem a Amazônia, o Brasil teria território semelhante ao da Argentina.

A posição estratégica, no centro da América do Sul, garante à Amazônia papel fundamental para integração sulamericana. Se do ponto de vista político o Mercosul é o cerne da integração sulamericana do ponto de vista geográfico a Amazônia é o seu centro de gravidade, comparou o general.

Suas riquezas podem ser resposta para os problemas da humanidade. Pode fornecer ao mundo alimentos, água, energia limpa, biodiversidade e sequestro de carbono para mitigar as mudanças climáticas. Um exemplo da importância geopolítica da região é o aquífero de Alter do Chão, divulgado como maior que o Aquífero Guarani.

No sul do Brasil, o aquífero está debaixo de rocha. Na Amazônia o terreno é arenoso. Além da areia servir de filtro natural ela diminui os custos de exploração do aquífero, uma vez que perfurar rochas seria muito mais caro. Num planeta ameaçado pelo aquecimento global e pela falta de recursos hídricos, o Aquífero Alter do Chão é uma reserva estratégica.

O governo, por meio da administração direta ou por meio de agências e de parcerias, é o agente principal para o planejamento estratégico e para promoção do desenvolvimento regional. A estratégia tem de ser pensada a longo prazo, norteada pelos interesses geopolíticos do Brasil e de forma pragmática.

Orlando Villas Boas, também citado pelo general, já na década de 1970, alertava para o risco dos índios estarem se capacitando nos Estados Unidos, para depois voltarem como líderes, falando inglês, muito mais americanos que brasileiros. Se esses líderes pedirem terra independente do Brasil e da Venezuela, os americanos e a ONU apoiariam e estaria instaurada uma disputa de fronteira internacional. Conhecer a Amazônia e implementar o desenvolvimento dessa região é a única forma de afirmar a soberania brasileira naquela região.

Autora: Danielle Denny, participante do Projeto Repórter do Futuro, módulo “Descobrir a Amazônia, Descobrir-se Repórter”.


Meio ambiente, biodiversidade e biocombustíveis na Amazônia
Depois do futebol, a bioenergia é o diferencial brasileiro

O Brasil é o país mais verde do mundo, é o que mais usa biomassa, segundo Marcos Silveira Buckeridge , do Depto. de Botânica do Instituto de Biociências da USP. O etanol é o principal produto a tornar o Brasil liderança nessa área, mas não é o único. As possibilidades a serem exploradas via ciência e tecnologia são várias. Existe, por isso, uma “einstenlândia” montada para o desenvolvimento da pesquisa nessa área.

O Centro de Tecnologia Canavieira CTC é um dos exemplos , junto com o Programa de Bioenergia BIOEN da FAPESP, o Laboratório de Fisiologia Ecológica LAFIECO, o laboratório de mudanças climáticas e o Institudo de Ciência e Tecnologia do Bioetanol CTBE. Com laboratórios modernos e equipados esses centros de pesquisas desenvolvem produtos novos e melhoram a qualidade dos atualmente utilizados.


Foto da “einsteinlândia” http://msbuckeridge.wordpress.com/about/

Só usando a cana-de-açúcar como fonte energética, além do 1/3 de energia que hoje é produzido via alcool, ainda restam 2/3 de possibilidades para aumentar a produção, explorando o bagaço e a palha. Contudo, barreiras técnicas têm de ser superadas, principalmente com relação à celulose do bagaço. As equipes de pesquisadores se dividem, então, para pesquisar: variedades de plantas, carga genética, fungos, enzimas e processos catalizadores.

Com relação à planta, buscam-se, na equipe de Buckeridge, variedades de cana que sejam mais maleáveis, cuja parede celulósica não seja tão estruturada, para facilitar a hidrólise e, assim, a extração da energia. Geneticamente o sequenciamento da cana tem sido feito por um consórcio mundial do qual o Brasil é líder. Inserir gene de fruto pode gerar a “cana-papaia”, planta que se auto destrói, como os frutos, para liberar as sementes. Fungos e outros microorganismos que atacam a celulose para produzir açúcar, também têm sido pesquisados E têm sido buscadas enzimas. Em Riberão Preto já existe enzima sintética transgênica que aumenta a produtividade da hidrólise.

O objetivo principal de toda essa pesquisa é evoluir da primeira geração de biocombustíveis (cana-etanol) para a segunda geração que usa bioquímica e termoquímica para aproveitar açúcares como xylose, arabinose e glucose que as enzimas naturais não digerem e que em condições normais de temperatura e pressão são muito estruturados para que se possa extrair deles energia.

Durante o desenvolvimento dessa pesquisa, ocorrem externalidades positivas, como a descoberta de uma fibra solúvel que passou a ser utilizada pela indústria alimentícia e um composto anti-diabético que vem sendo estudado pelas farmacêuticas. Dessa forma, o investimento em pesquisa e tecnologia de ponta tem uma grande capacidade de produzir produtos e serviços derivados que podem vir a ser explorados economicamente de forma independente, gerando não só recursos para os centros de pesquisa e para os pesquisadores, como também desenvolvimento sustentável para o Brasil.

O esforço tem de ser transdiciplinar, com muitos cientistas de muitas áreas para desenvolver soluções para os problemas da sociedade. O Brasil, como país mais verde do mundo, investindo cada vez mais em pesquisa e tecnologia limpa, tem a oportunidade não só de se desenvolver como também de gerar benefícios para a humanidade como um todo, como a mitigação dos efeitos do aquecimento global.

Entenda mais sobre o assunto:

Viver Sustentável - Programa 10: Biocombustíveis - Biodiesel from Viver Sustentável on Vimeo.





Autora: Danielle Denny, participante do Projeto Repórter do Futuro, módulo “Descobrir a Amazônia, Descobrir-se Repórter”.


As Amazônias

O professor Ariovaldo Umbelino , em conferência no Instituto de Estudos Avançados da USP, em 22 de maio de 2010, citou Orlando Valverde que afirmava existirem várias amazônias dadas as muitas difereças e complexidades. São 7 milhoes km². 1/20 da superfície da terra. 1/5 da superfície da América do sul. Maior banco genético do planeta em biodiversidade. Maior concentração de água doce no planeta.

Há 20 anos a população indígena recomeçou a crescer. Recuperam a identidade e participam da luta de demarcação das suas terras. Para esses povos indígenas o território dos países não tem significado algum. Não existem 2 países fronteiriços como a Bolívia e o Brasil. Apenas uma terra indígena. Há, então, um processo de disputa pelo território brasileiro. O que menos se cartografa de modo evidente são as terras indígenas. Mapas municipais são uma forma de esconder a volúpia dos não índios de ocupar as terras indígenas, que nesses mapas aparecem como zona rural do município.

A legislação brasileira separa direito do solo do direito do subsolo. Subsolo é da União. E o Minstério da Minas e Energia tem o direito para conceder concessão para lavra. Quem tem direito da propriedade do solo não tem direito ao respectivo subsolo. Além disso, no Brasil, a terra tem que cumprir função social: ser produtiva, respeitar legislação ambiental, respeitar legislação trabalhista e não cultivar drogas. Assim, a propriedade da terra é relativa. Se o proprietário não cumprir a regulamentação tem de ser desapropriado.

A Amazonia é a maior província mineralógica do mundo. A energia que hoje é gerada na região é para a Vale do Rio Doce e para as outras mineradoras extrairem alumínio e exportarem. Mais de 90% do custo do alumínio é de energia. Por isso a construção de hidrelétricas gera tanta oposição, como as posições do Movimento dos Atingidos por Barragens.

Outro problema muito grave é que junto com a exploração da madeira e com os catadores de raízes de soja há o trabalho escravo, que tinha diminuido na década de 90 mas agora, durante o governo Lula, tornou a crescer.

A Amazônia é a região de menor presença dos movimentos sociais. Porém é onde está a maior parte de conflitos de terras. A ocupação se deu de forma desordenada e atualmente existem mais de um proprietário sobre a mesma terra, um verdadeiro beliche fundiário usado para se conseguir crédito. As diversas escrituras sobre o mesmo terreno permitem hipotecar o imóvel. Assim, há imóveis dados em garantida para diversas transações simultaneamente, usando número de registro diferente. Isso justifica o fato de, em Luciara, município mato-grossense, 70% dos proprietários nunca estiveram lá, conforme exemplifica Ariovaldo Umbelino.

Autora: Danielle Denny, participante do Projeto Repórter do Futuro, módulo “Descobrir a Amazônia, Descobrir-se Repórter”.


Arqueologia na Amazônia

Eduardo Goes Neves , em conferência no Instituto de Estudos Avançados da USP, em 22 de maio de 2010, ressaltou que que a floresta amazônica não é só mata, pessoas vivem na Amazônia há 14 mil anos e alteraram a paisagem (natureza com intervenção humana) claro que em menor escala que a antropização que se dá hoje. A Amazônia antiga, elucidada pelo arqueólogo, demonstra a história pré colonial do Brasil.

O importante é afastar os critérios preservacionistas e substituí-los por paradigmas desenvolvimentistas. Mesmo porque, a biodiversidade hoje existernte na Amazônia também decorre da habitação de pessoas naquele terrritório há séculos. A terra preta por exemplo, onde se encontram vários sitios arqueológicos, é uma terra produzida pela ação humana.

Urbanóides, que vivem só nas cidades, ficam mais tranquilos de saber que há reserva, debocha o arqueólogo. Mas o modo de vida das populações locais das unidades de conservação são muito benéficas e pouco impactantes. Precisamos incorporar essa geração humana à sociedade brasileira, conferindo-lhe cidadania. Não se pode penalizar o seringueiro cujo meio de vida é muito pouco impactante com a proibição de desenvolvimento pessoal e familiar.

Além desses problemas estruturais, há dificuldades mais técnicas, um dos maiores desafios da arqueologia no Brasil é formar porfissionais e outro entrave é a necessidade melhorar a forma de documentar as pesquisas, porque isso permite aos estudiosos do futuro refazer o mesmo projeto e avançar sem precisar refazer todo o trabalho já feito.

Autora: Danielle Denny, participante do Projeto Repórter do Futuro, módulo “Descobrir a Amazônia, Descobrir-se Repórter”.


AmazonIEA aguarda parcerias

Maritta Koch-Wesser , coordenadora geral do projeto Amazônia em Transformação, forneceu, 29 de maio de 2010, detalhes sobre esse projeto do Instituto de Estudos Avançados da USP que envolve a digitalização de inúmeros documentos de renomados pesquisadores da Amazônia.

A pesquisadora ressaltou que devemos nos preocupar com as seguintes perguntas:
Qual é a visão de longo prazo para a Amazônia, para 2050 por exemplo? Como deve ser estruturada e explorada essa região enorme levando em conta cada especificidade subregional? Como contribuir com uma redução do aqueciemnto climático global? Como fazer uso dos recursos REDD para pagamento de serviços ambientais? Como desenvolver um Mercado Verde competitivo com a soja e com a pecuária? Como elaborar estratégias de desenvolvimento humano em ações com escala, pés-no-chão, valorizando os recursos naturais como meio de despertar o interesse do mercado? Como aproveitar melhor os recursos hídricos? Como implementar a infraestrutura de transportes e de geração de energia?

Para encontrarmos as respostas a esses problemas é essencial o aprendizado com os erros e acertos do passado recente, afinal a ocupação da Amazônia se intensificou somente a partir da década de 60.

É nesse ponto que se torna fundamental o projeto Amazônia em Transformação cujos objetivos são basicamente quatro.

1. O primeiro é salvar a memória dos processos de transformação da Amazônia e resgatar a memória histórica ameaçada. Para tanto é preciso identificação e mapeamento dos acervos multimídia não publicados e dos muitos documentos raros e ou ameaçados. A digitalização desses documentos deve ser feita em diversas cidades e compartilhadas em uma plataforma de Internet comum. Devem ser feitas entrevistas com testemunhas da época para captar a filosofia, entender por que alguém determinou a construção da Transamazônica, por exemplo. Por meio desse resgate da memória, o projeto busca viabilizar um futuro enraizado na aprendizagem sistemática.

2. O segundo objetivo é disponibilizar acesso a informação sobre a Amazônia com diferenciação subregional e criar um site acadêmico, na intranet da USP, para dar acesso a essas informações para o grande público, inclusive de fora das universidades. A idéia é criar um “Google Amazon” (geográfico-temático, acadêmico) para identificar que projetos aconteceram lá, quais empresas de engenharia já fizeram trabalho lá etc. O objetivo também é incentivar a informação botton up, ou seja, a alimentação de plataformas interativas já existentes na Internet como a Wikipédia

3. O terceiro objetivo é fazer do Instituto de Estudos avançados da USP um referencial de conhecimento sobre a Amazônia constemporânea. O IEA seria o Amazon Think Tank. Seria o receptor do acervo físico da documentação. Seria o dono do site acadêmico para compartilhamento das informações. E realizaria estudos avançados sobre a Amazônia disponibilizando, inclusive, uma pós graduação específica sobre Amazônia.

4. O quarto objetivo é promover a pesquisa e difusão do conhecimento sobre a Amazônia, alimentando estratégias atuais, com inclusão de instituições públicas de ciencia, ONGs especializadas científicas (como por exemplo instituto socio ambiental) e outras.

Para atacar essas quatro frentes de trabalho o projeto Amazônia em Transformação pretende articular quatro áreas de conhecimento:

1- a primeira seriam as estratégias sócioeconomicas de ocupação e de desenvolvimento. Politicas indigenistas. População tradicional. Diversidade cultural. Sociedade civil. Democratização. Atores coletivos e novas arenas.

2- a segunda área de conhecimento seria a expansão de fronteiras e do setor privado. Mineração, petróleo e gás. Urbanização e industrialização. Hidrelétricas, infraestrutura e transportes.

3- a terceira área de conheciemento seria biodiversidade e ciência. Zoneamento agroecológico. Manejo florestal. Indagações para um cenário sustentável.

4- e a última área de conhecimento seria temas pan amazônicos, relações transfronteiriças, manejo de bacias, clima e tudo que afeta não só o Brasil.

Para concretizar esses ambiciosos planos o projeto Amazônia em Transformação tem necessidade de vários parceiros como Goeldi, Embrapa, INPA, INPE, Universidades regionais, internacionais, empresas, fundações, ongs. É preciso financiamento público e privado. Nacional e internacional.

Vários pesquisadores já disponibilizaram seus acervos pessoais para o projeto Amazônia em Transformação, como por exemplo Adrian Cowell, Betty Mindlin, Mauro Leonel, Mary Allegretti, Paulo Nogueira Neto, Russel Mittermeier, Don Sawyer e Bertha Becker.

A estréia do Projeto Amazônia em Transformação como organizador de eventos será 30 de agosto, quando haverá na USP fórum sobre o manejo de recursos hídricos da Amazônia.

Autora: Danielle Denny, participante do Projeto Repórter do Futuro, módulo “Descobrir a Amazônia, Descobrir-se Repórter”.


Novo jornalismo na Amazônia

Estamos em um novo mundo, um mundo falante, conforme apontou Manuel Carlos Chaparro , em palestra na Oboré, 12 de junho de 2010: “os protagonistas da atualidade agem pelo que dizem, nas várias formas de dizer e dizem pelo que fazem, nas várias formas de agir”. Essa nova fase do desenvolvimento comunicacional humano pode ser denominada de revolução das fontes.

Antes da globalização as notícias demoravam a chegar, hoje, os acontecimentos são noticiados simultaneamente, pelos próprios protagonistas dos eventos que filmam, fotografam e relatam o ocorrido e disponibilizam esse material on line para conhecimento de todos. Acabou o intervalo entre o acontecimento e a notícia. Assim, a notícia passa a ser a maneira mais eficaz de atuar no mundo de conflitos e contradições e o poder sobre as notícias não está mais com os jornalistas, mas sim com as próprias fontes. Aos jornalistas cabe o papel de facilitador do diálogo no espaço público da mídia, interpretando os conflitos discursivos dos diversos interessados.

No caso da Amazônia, por exemplo, pesquisadores já acompanham a evolução do desmatamento a cada dois dias. E afirmam ser possível zerar, até 2020, o desmatamento. Essa foi a proposta do IPAM – Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia e do e o WHRC – Woods Hole Research Center, na COP15, intitulada “O Fim do Desmatamento na Amazônia Brasileira”. A pesquisa revelou que devemos aproveitar a atual “janela de oportunidade” para salvar a floresta e, ainda, reduzir as emissões de carbono no Brasil.

O custo seria entre US$ 6,5 e US$ 18 bilhões para: apoiar os povos da floresta e os pequenos produtores da região em atividades de subsistência que demandem pouco desmatamento, identificar e recompensar os agricultores e criadores de gado responsáveis, melhorar a aplicação da legislação ambiental e, ainda, investir na gestão de áreas protegidas.

Os próprios IPAM e WHRC mantém sites de notícias. São ao mesmo tempo fontes e comunicadores. Aos jornalistas nesse contexto cabe a divulgação dessas notícias já disponibilizadas pela fonte, facilitando o entendimento pelo grande público.

Autora: Danielle Denny, participante do Projeto Repórter do Futuro, módulo “Descobrir a Amazônia, Descobrir-se Repórter”.

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