27/08/2010

USP LANÇA LICENCIATURA EM EDUCOMUNICAÇÃO

Por Danielle Denny

A escola encontra-se em séria dificuldade: um total de 40% dos alunos do ensino médio abandonam as salas de aula por falta de motivação. A mídia, por sua vez, vive uma profunda crise de credibilidade, pois o modelo de negócio da grande mídia está ameaçado pelo barateamento dos custos de produção e distribuição de conteúdo. É nesse contexto que o curso de Educomunicação apresenta-se como a grande novidade do momento.

Integrar a Pedagogia com a Faculdade de Comunicação e Artes foi um dos desafios transpostos por Ismar de Oliveira Soares, coordenador do novo curso. Com currículo transdisciplinar, a licenciatura pretende habilitar os jovens a assumirem vagas principalmente como gestores de comunicação tanto na iniciativa privada como na pública. As inscrições para a primeira turma começaram 27 de agosto de 2010, por meio da FUVEST.

O lançamento do curso foi oficializado em 23 e 24 de agosto de 2010, no II Encontro Brasileiro de Educomunicação, que reuniu representantes da UNESCO, de órgãos públicos, da mídia, do terceiro setor e do campo educacional.

Flávia Rossi do Instituto Chico Mendes do Ministério do Meio Ambiente ressalta que a educação como política pública é um novo campo de trabalho para os comunicadores. A política pública de educação sobre conservação da biodiversidade nas unidades de conservação, por exemplo, só é bem sucedida se houver uma comunicação muito bem feita, envolvendo os moradores dessas regiões e os habilitando para a gestão participativa. Vale a pena conferir os vídeos elaborados por moradores dessas unidades de conservação no projeto Tela Verde, a rádio Nas Ondas do São Francisco e o fichário com material para educadores ambientais Coleciona. Todos disponíveis nos endereços abaixo:
www.mma.gov.br/ea
www.icmbio.gov.br
http://encea.blogspot.com


Guilherme Canela, da UNESCO, enfatizou a importância que a ONU confere à educomunicação há várias décadas. Mas cada vez o tema tem mais relevancia, devido a centralidade das mídias na experiência cotidiana, no trabalho, no estudo e no lazer. Com o barateamento do custo de se tornar fazedor de conteúdo midiático, o tema não pode mais ser ignorado, tem de ser incorporados às decisões de política pública. “Ou fazemos bem ou fazemos mal mas não se pode mais fazer nada”. Até o final do ano, a UNESCO escolherá 8 paises piloto para lançar iniciativa de qualificação de educomunicadores, o Brasil pode ser um deles.

No terceiro setor, a carreira de educomunicador já vem sendo procurada há tempo. Eles já são uma realidade, por exemplo, na Viração, revista, site e movimento social, no Canal Futura de televisão e na Associação Cidade Escola Aprendiz. Em todos esses ambientes o profissional tem de se adaptar à migração digital, à transformação na direção dos fluxos de comunicação, que deixa de ser difusão unidirecional (broadcast) para ser interação multidirecionais (web). Há intensa mudança nas formas de aquisição de conteúdo, o usuário passa a ser protagonista, estabelecendo uma relação dialógica. Assim, o profissional precisa trabalhar em parceria nos projetos de comunicação que são elaborados por todo mundo em todo lugar a todo tempo. A produção tem de ser dialógica, colaborativa, em rede, interativa, com co-autoria modular e granular, ou seja, sem equipes internas, com produções tercerizadas, nas quais os parceiros têm autonomia editorial. O lider de comunidade do nordeste é um grao tão importante no sistema como o grao universidade de renome em São Paulo. Assim a competência básica do educomunicador é mediação de interesses. Afinal consensos provisórios são substituídos por outros a todo momento e não haverá nunca unanimidade mas formação de consenso.

Como sintetizou Vitor Massao, o educomunicador “nao deve ensinar a pescar, mas a caminhar junto até o lago”. O profissional tem de contribuir para a descoberta não descobrir, não tem que mostrar o seu jeito de fazer as coisa, mas mediar para que a pessoa encontre o seu próprio caminho. Os desafios são grandes, mas o curso de licenciatura da USP já é um primeiro passo.

Danielle Denny participou entre os dias 23 e 24 de agosto de 2010, na Escola de Comunicações e Artes da USP, do II Encontro Brasileiro de Educomunicação, cujo objetivo foi promover um diálogo entre a sociedade e a universidade sobre o perfil do profissional a ser formado pelo curso de Licenciatura em Educomuncação, reuniu representantes da UNESCO, de órgãos públicos, da mídia, do terceiro setor e do campo educacional. Contou com o apoio da revista Comunicação e Educação, da Editora Paulinas e do estúdio gráfico VVZ e a promoção de ECAUSP, CCA Departamento de Comunicação e Artes, EDU.COM e NCE USP.

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